quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Modelo de Desenvolvimento que Queremos

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, em uma entrevista disse que vê "uma re-significação da agricultura familiar para o país" no período recente. "A agricultura familiar tinha passado a ser vista pela sociedade como espaço de atraso, de problemas, de pobreza. Conseguimos resgatar o significado e conseguimos resgatar o setor economicamente, um setor que é muito relevante para o país", coloca o ministro. Para ele, "a visão que estava se estabelecendo era uma visão errada"

Continuar mudando a vida de milhares de agricultores familiares é um dos grandes desafios colocado no debate eleitoral de 2010. Um dos principais fatores para uma crise dos alimentos se concentra no uso de terras e da força produtiva para as culturas ligadas ao agronegócio, em concorrência com a produção de alimentos. Em alguns casos, estimativas chegaram a atribuir 75% da alta do preço dos alimentos ao uso da terra pelo agronegócio monocultor. Em que pese os possíveis exageros nos números (e os interesses camuflados por trás deles), a inflação dos preços alimentícios tem ajudado a ampliar as discussões sobre o que é prioridade na economia rural e reafirma a importância da agricultura familiar e da produção de alimentos.

O Governo Federal vem, nos últimos anos, ampliando os investimentos destinados à agricultura familiar, cerca de R$ 13 bilhões foram destinados na safra 2008/2009. Um aumento de R$ 1 bilhão frente ao período anterior. Os números são do próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que estima que a produção familiar seja responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.

Para Lamarche (1993), a agricultura familiar, erroneamente, esteve sempre associada à pobreza no meio rural e a ineficiência no uso dos fatores produtivos, o que não corresponde à verdade, pois esta modalidade de produção agrícola, na maioria das vezes, é extremamente eficiente na combinação de seus fatores produtivos, apesar de não possuir renda elevada, em razão dos limites físicos de suas áreas (em geral pequenas), da baixa escolaridade e ausência de poupança mínima.

Não podemos deixar de assinalar as dificuldades que a agricultura familiar enfrenta: menores indicadores de escolaridade, dificuldade de acesso á energia elétrica e aos meios de comunicação, descompensada forma de acesso a terra, falta de investimentos em infra-estrutura no meio rural. Embora a agricultura familiar ser responsável por 70% da produção de alimentos, é base de 90% dos municípios brasileiros e responde por 35% do PIB nacional, abrigando 40% da população economicamente ativa, mantendo emprego de milhões de brasileiros (ROSA COUTO, 1999).

Não podermos esquecer que o inchaço populacional das periferias urbanas e a favelização das metrópoles são oriundas do êxodo rural nos anos 70 e 80, produtos, também, do descrédito na agricultura familiar, conseqüências do modelo de desenvolvimento concentrador da terra e da renda no Brasil. Demonstra claramente que muitas vezes viver na cidade, não é uma condição suficiente e necessária para galgar uma boa qualidade de vida.

A forma de pensar dominante, normalmente caracterizou o agricultor familiar como atrasado, resistente à modernização, que necessitava de ser convencida da adoção de modernas técnicas agronômicas de produção. Tal modo de pensar resultou na maior concentração da renda e da riqueza, este processo no âmbito da agricultura foi denominado Revolução Verde, que estava amparado no produtivismo, na produção em escala, em uma cultura alvo (monocultivo), na adubação química, no uso dos agrotóxicos e tratores com crédito vinculado, ou seja, em torno de 20% do crédito era para aquisição de insumos modernos.

Essa visão colocou os resultados econômicos e mercadológicos prevalecendo sobre sociais e ambientais. Este modelo excluía o conhecimento local, não serve ou servia aos reais interesses da agricultura familiar, que tem uma lógica própria, seja na ocupação dos membros da família, seja no policultivo das roças, para aperfeiçoar espaço e garantir segurança alimentar.

É na perspectiva de afirmarmos um modelo de desenvolvimento comprometido como a agricultura familiar, como instrumento de garantia da qualidade de vida no campo e na cidade, que estamos construindo a campanha de Nonato Souza, liderança camponesa forjada na luta pela terra.

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